Você tem medo da tecnologia do futuro?

Gamificação, telas inteligentes, inteligência artificial… Quais sensações esses conceitos te causam em pleno século XXI? Como você se percebe diante do estabelecimento de uma era na qual caminhamos cada vez mais para um uso mais frequente e corriqueiro da tecnologia nas nossas vidas?

Muitos são aqueles que reconhecem e se valem dos avanços tecnológicos conquistados pela humanidade em prol de facilitar a sua vida diária: assistente de voz que contribui para a organização de tarefas, aplicativo de controle cardíaco que mostra oscilações nocivas em tempo real, smartphone que reúne diversas funcionalidades em um só lugar, entre tantas outras benfeitorias modernas que temos espalhadas pelos quatro cantos da casa.

De maneira oposta, investidos muitas vezes de julgamentos rasos e que se espalham sem a devida compreensão, estão tantos outros que olham para o mesmo fenômeno de maneira temerária e preocupante. Não obstante, repudiando tais avanços profetizando desordens individuais e sociais das mais diversas culpabilizando os próprios avanços pelo mau uso que lhes é direcionado.

Mas afinal, precisamos ter medo do quão longe a tecnologia poderá nos levar? Devemos nos preocupar com a possibilidade de um futuro distópico à lá Matrix ou Exterminador do Futuro no qual “o novo” (máquina) destrói e substitui “o velho” (homem)? A humanidade será o lobo da própria humanidade?

Sem adentrar em questões futuristas as quais não conseguiremos responder por agora, o medo, tido como a mais remota das emoções humanas se caracteriza como uma reação a um perigo iminente, real ou imaginário, que sempre esteve lado a lado ao desenvolvimento dos homo sapiens.

Quando o sociólogo Stanley Cohen (1942-2013) cunhou esse conceito através dos seus trabalhos a partir da criminologia (em sua obra “Folk Devils and Moral Panics”, de 1972), estávamos distantes da “ameaça” que hoje a tecnologia representa especialmente para essa atual geração de seres entre 6 e 20 anos.

Paradoxalmente, tal faixa etária (Geração Z) é composta justamente por indivíduos que já nasceram dentro dessas novas tecnologias (internet, redes sociais, automações) e que, por tal, são grandes usufrutos da mesma!

Evidentemente, o uso consciente das inovações contemporâneas por parte desses nativos digitais ainda precisa de maiores cuidados: as facilidades das ferramentas modernas que hoje possuímos carregam também diversos comportamentos desadaptativos como baixa tolerância ao esforço, distorções perceptivas em relação à autoimagem, empobrecimento de habilidades sociais, dentre outras disfuncionalidades psicossociais relevantes e essenciais para o bom desenvolvimento do sujeito.

Todavia, se até mesmo o telefone foi tido certa vez como “um retrocesso à privacidade das pessoas” e as palavras-cruzadas como “um vício danoso à mente e à produtividade humana” (sim, acredite!), torna-se até compreensível o medo atual de como essas inovações serão no futuro quando consideramos o receio que temos, quase que de maneira inata, ao desconhecido.

Mesmo assim, com facilidade podemos compreender que nunca foi algo do objeto em si, mas sim do mau/mal uso do objeto em si (ou você já se deparou com um telefone que roubou a intimidade de alguém sem que este mesmo alguém não tenha usado deste telefone para falar da sua intimidade com uma outra pessoa?)

Portanto, assim como aconteceu com tantos avanços da raça humana durante a história, é bem provável que daqui há alguns anos estejamos nos perguntando sobre esse medo da tecnologia atual e como nos atrasamos por coibi-la veementemente em escolas, junto a crianças e outros espaços sendo resistentes às suas benfeitorias. Ou seja, em vez de nos educarmos através de uma consciência digital para o seu bom uso preferimos (ou melhor, tentamos...) erradicá-la do nosso convívio social sob a acunha do temor.

E quando tudo isso passar não tenha dúvidas: teremos uma outra criação humana para atribuir o nosso indissociável pânico moral...